Este assunto tenho vindo a refletir sobre ele, nos últimos anos, tanto pela minha dificuldade em conseguir divulgar adequadamente o que faço como cientista, como verifico que as instituições fazem muito mais do que comunicam.
A ciência está presente em quase todos os aspetos da nossa vida, desde os avanços médicos até à tecnologia que usamos diariamente. No entanto, a comunicação científica nem sempre acompanha o ritmo das descobertas. Será que todos os que trabalham na ciência deveriam saber comunicá-la? E quais são os desafios e necessidades desta missão?
Por Que é Importante Comunicar Ciência?
A comunicação eficaz da ciência tem um impacto direto na sociedade. Quando bem feita, pode:
- Combater a desinformação: Fake news e pseudociência prosperam quando há falta de comunicação clara e acessível por parte dos especialistas.
- Aproximar a ciência do público: Muitas descobertas científicas permanecem confinadas a revistas académicas, inacessíveis à maioria da população.
- Influenciar políticas públicas: Decisões baseadas em evidências requerem uma ponte eficaz entre cientistas, políticos e o público.
- Incentivar vocações científicas: Jovens inspiram-se em boas histórias científicas e podem ser motivados a seguir carreiras na área.
Os Desafios da Comunicação Científica
Apesar da sua importância, comunicar ciência de forma eficaz não é fácil. Entre os principais desafios estão:
- Jargão técnico: Muitas vezes, cientistas estão habituados a falar numa linguagem complexa, pouco acessível ao público em geral.
- Falta de formação específica: A maioria dos cientistas não recebe treino em comunicação durante a sua formação académica.
- Tempo e recursos: Publicar, investigar e ensinar já são tarefas exigentes. Acrescentar a comunicação ao público pode parecer um fardo extra.
- Ruído mediático: No mundo digital, a informação científica compete com desinformação, teorias da conspiração e conteúdos sensacionalistas.
O Que é Necessário para Melhorar?
Para que a comunicação científica seja mais eficaz, algumas mudanças são essenciais:
- Formação em comunicação: Cursos, workshops e disciplinas sobre comunicação científica deveriam fazer parte da formação de qualquer cientista.
- Apoio institucional: Universidades e centros de investigação devem incentivar e valorizar a divulgação científica.
- Parcerias com comunicadores: Jornalistas, escritores e criadores de conteúdo podem ajudar a traduzir ciência para o público.
- Uso de novas plataformas: Redes sociais, vídeos interativos e podcasts são ferramentas poderosas para alcançar audiências diversas.
Todos os que trabalham na ciência têm um papel na sua comunicação. Embora nem todos precisem de ser divulgadores científicos, é essencial que cada cientista desenvolva, pelo menos, a capacidade de explicar o seu trabalho de forma clara e acessível. Afinal, uma ciência que não é compreendida pelo público perde parte do seu impacto e valor. O futuro da ciência depende não só das descobertas que fazemos, mas também de como as comunicamos.