Nos últimos anos, a sustentabilidade tem ocupado um lugar central nas políticas de responsabilidade corporativa das grandes empresas tecnológicas. Entre os anúncios mais recentes, destaca-se o compromisso da Google de repor 120% da água que utiliza nas suas operações globais até 2030.
Esta meta ambiciosa surge num momento em que o mundo enfrenta uma crescente crise hídrica, agravada pelas mudanças climáticas, pelo crescimento populacional e pela exploração insustentável de recursos naturais. Mas como pretende a gigante tecnológica cumprir esta promessa? E quais serão os impactos reais desta medida?
Porquê a Água?
Embora a pegada de carbono das empresas tecnológicas receba a maior parte da atenção mediática, a pegada hídrica é uma questão igualmente crítica. A Google, com os seus centros de dados e escritórios em todo o mundo, é uma consumidora intensiva de água. Os centros de dados, em particular, utilizam grandes quantidades de água para o arrefecimento dos servidores, garantindo que funcionem de forma eficiente.
A relevância deste compromisso ganha ainda mais peso considerando que muitas regiões onde a Google opera já enfrentam escassez de água. Segundo estimativas da ONU, quase metade da população mundial enfrentará dificuldades no acesso à água potável até 2030, o que reforça a urgência de uma gestão responsável deste recurso essencial.
Como a Google Pretende Cumprir o Objetivo?
O compromisso de “repor 120%” significa que a empresa não só planeia compensar o total da água que consome, como irá regenerar 20% mais. Para isso, a Google delineou várias estratégias, incluindo:
- Parcerias com comunidades locais: A Google planeia investir em projetos que aumentem a capacidade de retenção de água nos territórios onde opera, como a restauração de zonas húmidas, a melhoria de infraestruturas hídricas e a plantação de vegetação nativa que promova a infiltração de água nos lençóis freáticos.
- Eficiência nos centros de dados: A empresa já utiliza tecnologia avançada para reduzir o consumo de água nos seus centros de dados, incluindo o reaproveitamento de água reciclada e sistemas de arrefecimento mais eficientes.
- Inovação e sustentabilidade: A Google aposta no desenvolvimento de tecnologias que permitam uma gestão hídrica mais eficiente, não só para a própria empresa, mas também para as comunidades e indústrias onde está inserida.
Estes esforços complementam o compromisso já existente da Google de ser uma empresa com operações 100% sustentáveis em carbono até 2030.
O Impacto e as Críticas
Embora a iniciativa seja, à primeira vista, louvável, alguns críticos questionam até que ponto este tipo de compromissos representa uma verdadeira transformação ou se trata apenas de “greenwashing” – um esforço de marketing para melhorar a imagem ambiental da empresa.
Algumas questões levantadas incluem:
- Medir o impacto real: Será possível verificar de forma transparente se a Google está, de facto, a repor 120% da água consumida?
- Soluções locais ou globais?: Apesar de a empresa implementar projetos em várias regiões, o impacto positivo pode ser desigual. Repor água numa região não resolve a escassez noutra.
- A escala do desafio: Embora a Google esteja a liderar pelo exemplo, outras empresas tecnológicas e setores industriais precisam de adotar medidas semelhantes para que haja um impacto global significativo.
Por outro lado, o compromisso da Google pode incentivar outras multinacionais a definir metas semelhantes, contribuindo para uma maior consciência sobre a importância da gestão sustentável da água.
O Futuro da Gestão Hídrica Corporativa
Se a Google cumprir a promessa, estará a estabelecer um novo padrão para a gestão de recursos hídricos em larga escala. A abordagem de “dar mais do que se retira” é particularmente relevante num mundo onde a escassez de água já afeta milhões de pessoas.
Mais do que uma responsabilidade ambiental, compromissos como este mostram que as grandes empresas têm um papel vital a desempenhar na preservação dos recursos naturais. Contudo, cabe à sociedade civil, aos governos e às organizações ambientais acompanhar de perto estes esforços, garantindo que as promessas se traduzam em ações concretas e impactos mensuráveis.
O compromisso da Google com a reposição de 120% da água consumida até 2030 é um exemplo de como as empresas podem liderar mudanças positivas num contexto de crise ambiental global. Contudo, é essencial que estas metas sejam cumpridas com transparência, garantindo que as ações beneficiem tanto o meio ambiente como as comunidades locais.
Será que estamos perante um novo paradigma de gestão corporativa sustentável ou apenas um esforço de autopromoção? O tempo – e os resultados – dirão.