Inteligência Artificial no Ensino Superior: Por uma Ética Digital Coletiva

by Susana Lucas
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A inteligência artificial (IA) chegou ao ensino superior para ficar. Plataformas que resumem textos, geram código, criam imagens, corrigem escrita, respondem a perguntas complexas — tudo isto está hoje ao alcance de qualquer estudante ou docente com ligação à internet. Mas com este poder, surgem também novas responsabilidades.

Utilizar IA pode ser uma mais-valia: ajuda à organização de ideias, automatiza tarefas repetitivas, melhora a acessibilidade e permite apoio personalizado à aprendizagem. No entanto, quando mal utilizada, transforma-se numa forma de desresponsabilização: há quem entregue trabalhos feitos por ferramentas generativas, sem sequer ler ou compreender o conteúdo. Outros usam a IA para ultrapassar exames ou avaliações sem qualquer esforço próprio.

Não estamos apenas perante um problema de “batota digital”. Estamos perante uma questão ética profunda, que põe em causa os próprios princípios do ensino, da aprendizagem e da produção de conhecimento.

É urgente encarar a IA com responsabilidade. Isso significa garantir que o seu uso seja:

  • Transparente: É preciso saber quando e como foi usada.
  • Informado: Os utilizadores devem entender as limitações e os riscos da IA.
  • Justo: O acesso à IA deve ser equitativo, evitando desigualdades entre estudantes.
  • Íntegro: O uso da IA não deve violar os princípios da honestidade académica.

Cada instituição de ensino superior deveria ter uma Comissão de Ética Digital, responsável por:

  • Criar diretrizes claras e atualizadas sobre o uso de IA em contextos académicos;
  • Avaliar casos dúbios ou polémicos com imparcialidade;
  • Acompanhar a evolução tecnológica e ajustar as políticas internas;
  • Promover uma cultura de responsabilidade digital, em vez de proibições cegas.

Esta comissão pode funcionar de forma transversal: com representantes de estudantes, docentes, especialistas em IA, juristas e membros da administração académica.

Não basta legislar — é preciso educar. Professores e alunos precisam de formação contínua sobre:

  • O que é a IA generativa e como funciona;
  • Limites éticos e legais do seu uso (por exemplo, direitos de autor e proteção de dados);
  • Boas práticas no contexto de avaliações, investigação e produção de conteúdos;
  • Ferramentas que podem ajudar na aprendizagem sem substituir o esforço individual.

Formar docentes é particularmente crítico: muitos sentem-se inseguros ou desatualizados face ao avanço tecnológico, o que leva a reações extremadas — ou o banimento total, ou a tolerância acrítica.

A IA no ensino superior, penso que não é um inimigo — é uma aliada poderosa, desde que usada com ética, transparência e sentido crítico. Cabe às universidades liderarem este debate, não com medo, mas com visão.

Criar uma comissão de ética digital e investir na formação transversal da comunidade académica são passos fundamentais para garantir que a inovação tecnológica caminha de mãos dadas com os valores do conhecimento e da integridade.

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