Ontem, durante um passeio pela Mata das Virtudes, algo curioso aconteceu enquanto colhia espargos selvagens. A experiência fez-me refletir sobre como, muitas vezes, podemos percorrer o mesmo caminho, mas, dependendo da direção que tomamos, conseguimos observar coisas completamente diferentes. Esse fenómeno, que pode parecer insignificante, tem lições valiosas sobre a nossa perspetiva, tanto nos passeios pela natureza como na vida.
No início do passeio, caminhando numa direção, olhava atentamente para os arbustos e folhas secas em busca dos espargos, com algum sucesso apanhei espargos, toda feliz que já tinha algo natural para o meu almoço. Ao entanto, ao regressar pelo mesmo trilho, desta vez na direção oposta, subitamente os espargos que antes não tinha visto começaram a surgir aqui e ali, escondidos à primeira vista, mas agora claramente à minha frente.
Esse pequeno episódio deixou-me a pensar em como é fácil passar ao lado de algo importante, simplesmente porque não estamos a ver do ângulo certo ou, talvez, porque os nossos olhos não estão abertos para a mesma coisa em momentos diferentes. No fundo, isto não acontece apenas nas caminhadas pela natureza. No dia-a-dia, frequentemente estamos tão focados em seguir numa direção específica que perdemos detalhes valiosos que só surgiriam se parássemos e olhássemos para trás.
Esta experiência na Mata das Virtudes ensinou-me que a perspetiva faz toda a diferença. Ao longo da vida, podemos estar a caminhar pelos mesmos trilhos, mas, se nos dermos a oportunidade de parar e observar de diferentes ângulos, podemos descobrir “espargos selvagens” que sempre estiveram ali, mas que o nosso olhar apressado ou condicionado pela direção que seguimos não permitiu ver.
O passeio de ontem lembrou-me, de uma forma simples e natural, que os nossos caminhos, sejam eles na natureza ou nas nossas jornadas pessoais, são repletos de segredos e belezas escondidas. Só precisamos de estar dispostos a mudar de direção e a aceitar que, muitas vezes, é necessário caminhar de volta para descobrir o que estava mesmo à nossa frente.
Talvez, da próxima vez que percorremos um trilho, seja na vida ou na natureza, possamos lembrar-nos de que o importante não é apenas a direção em que seguimos, mas sim o cuidado com que observamos o caminho.