Hoje foi o primeiro dia da vindima na Quinta do Jardim, e com ela as memórias de outras vindimas vieram à tona.
Viajei até aos tempos em que ia na carroça do Sr. Zé da Serra até ao Prado dos meus avós para vindimar, numa época em que era muito frequente haver entreajuda das gentes da terra. Só assim era possível levar a cabo a vindima, assim como outras atividades agrícolas de que falarei a seu tempo.
Muita gente se reunia na casa dos meus avós para a vindima, cada um sabia a tarefa que tinha destinada. A minha avó incumbia-se de tratar das refeições para este rancho de gente. As mulheres colhiam os cachos, os homens carregavam os cestos. Era um dia de convívio além do trabalho. A mim recomendavam-me para não deixar nenhum baguinho para trás, todos eram importantes. Hoje ouvi também essa recomendação.
Alguns dos melhores cachos eram separados para comer em fresco, outros eram pendurados para ir comendo durante os meses de outono, até chegar a passas. Nada se desperdiçava.
Ano após ano era picada pelas abelhas pouco tempo depois de começar a cortar os cachos com a minha navalhita que me tinha sido oferecida pelo meu avô para tão nobre tarefa. A verdade é que vinha logo com a primeira carga de uvas na carroça, com a sentença do meu avô que parecia que eu fazia de propósito só para andar no passeio. Talvez meia verdade.
A carroça levava os cestos para o lagar, e as uvas eram esmagadas no pio com os pés. Guardo com muito carinho a memória do Ti Manel Florêncio que pisava as uvas durante dias (hoje já usamos a esmagadeira elétrica), e me dizia… “Sabe menina, não lavo os pés durante o ano para o vinho ficar bom” …eu acreditava, era um bom homem. Sentava-me ao pé dele no muro do pio a ver o que fazia e como, dava-me um copito pequenino de sumo de uva, o mosto, para eu provar, era uma delícia. Quando ele saía de dentro do pio lavava os pés e a pele ficava muito clarinha.
Na casa do meu avô ainda restam os pipas e pipos de madeira. Regavam-se com água para inchar a madeira e no final do verão usava-se sebo nas torneiras e nas uniões para impermeabilizar. Agora já usamos cubas de inox.
Além do vinho fazemos jeropiga e aguardente, tal como outrora.
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