A perda das cores

by Susana Lucas
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Nos últimos tempos tenho-me apercebido de algo curioso — e talvez um pouco inquietante.
As casas estão a ficar sem cor.
Percorro novas urbanizações, ruas recentes, conjuntos de moradias unifamiliares, e vejo uma paleta cada vez mais reduzida: branco, cinzento, preto. Os mesmos tons, repetidos, disciplinados, quase silenciosos.

E não são só as casas. Os carros seguem o mesmo caminho. As roupas, muitas vezes também.
Parece que, pouco a pouco, fomos perdendo o gosto — ou talvez a coragem — de viver rodeados de cor.

Porque será?

Talvez a cor nos pareça agora excessiva num mundo saturado de estímulos digitais. Talvez o minimalismo, tão presente nas redes e nas tendências, tenha ditado esta estética “neutra”, que promete ordem, elegância e segurança.
Mas há algo que se perde nesse processo: a expressão individual, a emoção, o carácter humano que a cor sempre trouxe aos lugares e aos objetos.

A cor é memória. É identidade. É emoção.
As casas coloridas contavam histórias — de quem as habitava, de quem as sonhava, de quem as construía com alma.
Hoje, ao olharmos tantas fachadas iguais, sentimos talvez uma certa calma… mas também uma ausência.

Pergunto-me se esta neutralidade não é também um reflexo de uma sociedade que procura não arriscar, não destoar, não marcar posição.
A cor exige escolha. Exige sentimento. Exige presença.

Talvez estejamos, inconscientemente, a apagar a nossa própria assinatura do mundo.
E talvez esteja na hora de voltarmos a pintá-lo — mesmo que com imperfeição, mas com verdade.

 

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