Nos últimos anos, o mercado da construção em Portugal diversificou-se de forma assinalável. Já não falamos apenas do processo tradicional em betão armado e alvenaria, mas também de opções como light steel framing, CLT (madeira lamelada cruzada), pré-fabricação modular, construção mista ou até sistemas híbridos de baixo impacto ambiental.
No papel, isto é uma excelente notícia — mais opções significam mais possibilidades de adequar o projeto ao orçamento, prazo, estética e objetivos de sustentabilidade de cada proprietário. Na prática, porém, esta abundância de soluções está a criar um novo problema: como escolher o processo construtivo que realmente se adapta à realidade de cada pessoa ou família?
Por que é tão difícil escolher?
- Falta de informação comparativa
A maioria dos potenciais proprietários recebe a informação diretamente de empresas construtoras, muitas vezes com um viés natural para o seu próprio sistema. Comparar custos, durabilidade, manutenção e impacto ambiental de forma neutra é raro. - Terminologia técnica pouco acessível
Conceitos como “pontes térmicas”, “inércia térmica” ou “cargas lineares” assustam quem não está habituado ao jargão da construção, afastando as pessoas de uma decisão informada. - Ausência de dados reais de desempenho em Portugal
Mesmo sistemas muito promissores no estrangeiro podem ter comportamento diferente no clima português, devido à humidade, salinidade ou variações térmicas. - Preconceitos e hábitos culturais
Há quem desconfie de casas modulares ou de madeira, por tradição ou falta de contacto, mesmo que sejam soluções comprovadamente sólidas.
O que pode e deve ser feito?
- Guia oficial comparativo
Criar, a nível nacional (por exemplo, através da OA, OE ou do LNEC), um documento atualizado anualmente que compare de forma transparente diferentes sistemas construtivos — custos médios por m², tempos de execução, desempenho energético, durabilidade e impacto ambiental. - Plataformas interativas para simulação
Ferramentas online onde o utilizador possa inserir dados do seu projeto (orçamento, prazo, localização, nível de eficiência energética desejado) e receber recomendações personalizadas de sistemas construtivos. - Casas-modelo visitáveis
Promover “parques de demonstração” com construções reais, em escala real, que mostrem diferentes sistemas, acabamentos e soluções, permitindo que os futuros proprietários toquem, vejam e sintam as diferenças. - Formação simplificada para o público
Workshops curtos e gratuitos em câmaras municipais ou feiras de construção, focados na linguagem acessível e exemplos práticos.
A diversidade de processos construtivos é um avanço inegável para o setor da construção em Portugal. Mas, sem ferramentas de comparação imparciais e informação acessível, esta abundância acaba por gerar mais incerteza do que liberdade.
O futuro da habitação passa não só por inovar nas técnicas de construção, mas também por democratizar o conhecimento para que cada proprietário possa tomar decisões seguras, ajustadas à sua realidade e expectativas.