Recentemente, surgiu uma questão curiosa sobre a utilização da cortiça como revestimento exterior: alguém manifestou desagrado pelo facto de formigas, joaninhas e outros pequenos insetos terem escolhido o material como “casa”. É um comentário que merece reflexão, pois toca num ponto essencial — a relação entre os materiais naturais e o mundo natural que os rodeia.
A cortiça é um material 100% natural, renovável e sustentável. É proveniente de uma árvore viva, que respira, cresce e se regenera. Não é, portanto, surpreendente que outros seres vivos reconheçam essa afinidade ecológica e se sintam atraídos por ela. Para a natureza, a cortiça é familiar — faz parte do seu ciclo e, por isso mesmo, é normal que alguns insetos encontrem nela conforto, proteção ou passagem.
Curiosamente, a expectativa de usar um material natural e, ao mesmo tempo, esperar que a natureza o ignore por completo é, em si, um paradoxo. Se quisermos afastar por completo a presença natural, a solução passa por artificializar — aplicar tratamentos, químicos ou recorrer a materiais sintéticos. Mas mesmo assim, nada garante o “isolamento total”… afinal, até em casas de betão e tijolo surgem formigas e outros visitantes inesperados!
Escolher materiais naturais é também aceitar essa convivência equilibrada com o ambiente. Não estamos a construir contra a natureza, mas sim com ela. A cortiça, além das suas qualidades térmicas, acústicas e estéticas, convida-nos a repensar a forma como habitamos o mundo: em sintonia com o meio, e não numa tentativa impossível de o excluir.
Afinal, viver com a natureza não é um inconveniente — é um privilégio. E talvez seja essa a verdadeira beleza da cortiça.