O ensino superior em Portugal enfrenta um desafio sério e persistente: a elevada taxa de abandono escolar. De acordo com dados recentes, existem 11 cursos em que todos os alunos acabam por desistir. Sim, leste bem — 100% de desistência. E nos Cursos Técnicos Superiores Profissionais (CTeSP), o cenário também é preocupante: 28,1% dos estudantes desistem ainda no 1.º ano.
Estes números não são apenas estatísticas secas; são histórias de jovens que iniciam um percurso académico com expectativas e sonhos e que, por múltiplas razões, acabam por não o concluir.
O que está a falhar?
As causas do abandono são diversas e complexas:
- Escolhas pouco informadas: Muitos estudantes entram no ensino superior sem uma real noção do que os espera ou escolhem cursos com base em médias e não em vocações.
- Falta de apoio pedagógico e psicológico: A transição do secundário para o ensino superior pode ser desafiante e, em muitos casos, solitária.
- Problemas económicos: Há alunos que não conseguem conciliar os estudos com a necessidade de trabalhar para se sustentarem.
- Desajuste entre a formação e o mercado de trabalho: Cursos demasiado teóricos ou com pouca ligação à prática podem desmotivar.
E os CTeSP?
Os CTeSP foram criados com o objetivo de dar uma formação técnica mais próxima das necessidades do mercado. No entanto, mesmo nesses cursos — que teoricamente deveriam ser mais atrativos para quem procura uma entrada rápida no mundo do trabalho — a taxa de abandono no primeiro ano é preocupante.
28,1% de desistência num único ano significa que mais de 1 em cada 4 alunos não consegue sequer completar o primeiro passo. Isto levanta sérias questões sobre:
- A adequação dos programas;
- A preparação dos estudantes à entrada;
- A integração com as instituições de ensino e com as empresas.
É preciso agir — e depressa
O abandono escolar no ensino superior tem custos elevados, não só para os estudantes e as suas famílias, mas também para o país. Perde-se talento, investimento e tempo. Mais do que isso, mina-se a confiança dos jovens no sistema educativo.
É fundamental:
- Melhorar os mecanismos de orientação vocacional no ensino secundário;
- Reforçar o acompanhamento psicológico e pedagógico nas instituições de ensino superior;
- Criar programas de tutoria e mentoria entre alunos;
- Garantir que os cursos estão alinhados com as exigências do mercado de trabalho.
O facto de existirem cursos onde todos os alunos desistem deveria ser motivo suficiente para uma reflexão profunda e urgente. O ensino superior tem de ser mais do que uma meta estatística — deve ser uma experiência transformadora e acessível, que prepare verdadeiramente os jovens para a vida profissional e pessoal.
Se ignorarmos estes sinais, arriscamo-nos a continuar a perder gerações inteiras de estudantes que poderiam ter sido profissionais competentes e cidadãos mais realizados.