Quem já observou linhas de água cobertas por uma camada verde quase contínua conhece, provavelmente, as lentilhas-de-água – pequenas plantas aquáticas que se reproduzem rapidamente e podem, em certas condições, cobrir completamente a superfície de rios, lagoas ou tanques.
À primeira vista parecem inofensivas, mas em excesso tornam-se um verdadeiro problema ambiental. Ao cobrirem a superfície da água, impedem a entrada de luz solar e reduzem o oxigénio disponível no ecossistema aquático, podendo levar à morte de peixes e outras formas de vida. Eu próprio já tive essa experiência há uns anos: numa linha de água afluente ao Tejo, as lentilhas espalharam-se de tal forma que a água ficou “tapada” e os peixes acabaram por morrer por falta de oxigénio.
Mas será que estas pequenas plantas não podem ser parte da solução, em vez de apenas um problema?
Uma Matéria-Prima com Potencial
Nos últimos anos, várias investigações têm explorado o uso das lentilhas-de-água como biomassa para biocombustíveis, ração animal, fertilizante natural e até como base para produtos biodegradáveis. O seu crescimento acelerado, fácil colheita e composição rica em proteínas e fibras fazem delas um recurso promissor em diversas áreas.
Isto levanta uma questão interessante: porque não pensar nas lentilhas-de-água como matéria-prima para a construção sustentável?
Se já usamos cogumelos (micélio), algas e até resíduos agrícolas para produzir tijolos, painéis isolantes e compósitos naturais, talvez seja possível desenvolver um material à base de lentilhas-de-água – especialmente se for misturado com outras fibras ou resinas naturais.
Seria uma forma inteligente de transformar um resíduo ambiental em recurso construtivo, ao mesmo tempo que se limpam ecossistemas aquáticos sufocados por estas plantas.
Acredito que há um enorme campo de experimentação à nossa frente. E, quem sabe, um dia, parte das casas sustentáveis do futuro poderá ser feita com materiais “pescados” diretamente das linhas de água. Se assim for, as lentilhas-de-água deixarão de ser vistas como uma praga… e passarão a ser uma oportunidade.
Já tinhas pensado nisto?