O PLANO DE TRABALHOS DE UM PROJETO DE I&D

por SEIbySus
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Para a fundamentação da qualidade de um projeto de Investigação & Desenvolvimento (I&D), um dos aspetos a considerar é o da qualidade do plano de trabalhos (2020).

A demonstração dessa qualidade, deverá incluir a adequação dos recursos (pessoas, equipamentos), às tarefas e respetivos objetivos, marcos e entregáveis.

Os marcos e os entregáveis deverão estar identificados e calendarizados. Os marcos, em particular, deverão ter uma distribuição ao longo do projeto, que permita a verificação intercalar dos resultados e um acompanhamento eficiente do projeto.

O calendário do projeto tem de ser realista e tem de existir uma descrição detalhada do trabalho a desenvolver em cada tarefa. Devem ser evidenciadas as dependências entre as diferentes atividades.

Existe uma avaliação direta e uma indireta do plano de trabalhos apresentado.

  • AVALIAÇÃO DIRETA

A coerência do plano de trabalhos é avaliada de forma a verificar se é possível alcançarem-se os objetivos propostos. Deve assim, ser apresentado um plano de trabalhos com a descrição de atividades, responsabilidade das mesmas, descrição dos recursos humanos afetos. Em cada atividade devem ser identificadas as respetivas tarefas as suas datas de início e datas de conclusão. Deve, igualmente, ser efetuada uma sistematização do plano de trabalhos a partir de um diagrama de Gantt. Será relevante uma identificação dos principais riscos de cada atividade do projeto e os respetivos planos de contingência propostos.

 

  • AVALIAÇÃO INDIRETA

Na identificação das atividades de I&D deve ser efetuada a sua respetiva Classificação, como Investigação Industrial, Desenvolvimento Experimental ou Gestão Técnica do Projeto (ANI).

Investigação Industrial: a investigação planeada ou a investigação crítica destinada à aquisição de novos conhecimentos e capacidades para o desenvolvimento de novos produtos, processos ou serviços ou para introduzir melhorias significativas em produtos, processos ou serviços existentes. Inclui a criação de componentes de sistemas complexos, podendo integrar a construção de protótipos num ambiente de laboratório ou num ambiente de interfaces simuladas com sistemas existentes, bem como linhas-piloto de pequena escala para testar e validar o desempenho do método de fabrico, se necessários à investigação industrial, nomeadamente à validação de tecnologia genérica. Habitualmente, a investigação industrial corresponde aos Níveis de Maturidade Tecnológica ou TRL (Technology Readiness Level) 2 a 4.

Desenvolvimento Experimental: a aquisição, combinação, configuração e utilização de conhecimentos e capacidades relevantes, de caráter científico, tecnológico, comercial e outros, já existentes com o objetivo de desenvolver produtos, processos ou serviços novos ou melhores. Tal pode igualmente incluir, por exemplo, atividades que visem a definição conceptual, planeamento e documentação sobre novos produtos, processos ou serviços. O desenvolvimento experimental pode incluir a criação de protótipos, a demonstração, a elaboração de projetos-piloto, os testes e a validação de produtos, processos ou serviços novos ou melhores em ambientes representativos das condições de funcionamento da vida real, quando o principal objetivo consistir em introduzir novas melhorias técnicas nos produtos, processos ou serviços que não estejam substancialmente fixados. Pode igualmente incluir o desenvolvimento de um protótipo ou de projeto-piloto comercialmente utilizável, que não seja necessariamente o produto comercial final e cuja produção seja demasiado onerosa para ser utilizado apenas para efeitos de demonstração e de validação. O desenvolvimento experimental não inclui alterações, de rotina ou periódicas, introduzidas em produtos, linhas de produção, processos de transformação e serviços existentes e noutras operações em curso, ainda que tais alterações sejam suscetíveis de representar melhorias. Habitualmente, o desenvolvimento experimental corresponde aos Níveis de Maturidade Tecnológica ou TRL 5 a 8.

Os Níveis de Maturidade Tecnológica ou TRL (Techonology Readiness Levels), são os seguintes:

TRL 1 – Princípios básicos observados;

TRL 2 – Formulação do conceito tecnológico;

TRL 3 – Prova de conceito experimental;

TRL 4 – Validação da tecnologia em laboratório;

TRL 5 – Validação de tecnologia em ambiente relevante (semi-industrial);

TRL 6 – Demonstração da tecnologia em ambiente relevante (semi-industrial);

TRL 7 – Demonstração do protótipo do sistema em ambiente operacional;

TRL 8 – Sistema completo e qualificado;

TRL 9 – Sistema aprovado em ambiente de produção de série

 

A título de exemplo, avaliam-se dois projetos da área das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e outros dois das áreas da engenharia química/civil para se concluir sobre se apresentam ou não um plano de trabalhos de qualidade.

 

Projeto com um bom plano de trabalhos – Projeto S1

O projeto S1 tem como objetivo desenvolver uma solução de interligação a operadores de telecomunicações de centros de contacto baseados na “cloud”.

O plano de trabalhos apresentado é coerente e capaz de responder aos objetivos do projeto. A separação por atividades e tarefas tem em conta a complexidade do projeto e a afetação equilibrada de recursos. Apresenta marcos e entregáveis bem identificados, destacando, de forma adequada, os momentos relevantes para a avaliação do progresso do projeto.

 

Projeto com um insuficiente plano de trabalhos – Projeto N1

O projeto N1 tem como objetivo desenvolver módulos de emissão-receção optoeletrónicos baseados em Circuitos Integrados Fotónicos para redes de telecomunicações de acesso em fibra ótica para ligação de clientes.

Apresenta um plano de trabalhos em que a generalidade dos entregáveis se encontra descrita de forma pouco detalhada, sem indicação clara de quais os resultados-chave que serão produzidos. Apresenta atividades com duração muito prolongada, sem apresentar marcos intermédios para controlo e tomada de decisão.

O plano de trabalhos apresenta sobreposição de objetivos em diferentes atividades ou tarefas, não estando suficientemente detalhado e não identificando convenientemente as metodologias a adotar. Os marcos/entregáveis são escassos e sobrepostos no tempo.

 

Projeto com um bom plano de trabalhos – Projeto S2

O projeto S2 pretende o desenvolvimento de novos produtos para corrigir patologias em sistemas de isolamento térmico pelo exterior, através de um revestimento de pequena espessura.

Sendo o mesmo exemplo que tinha sido abordado no âmbito da metodologia cientifico-tecnológica o texto de avaliação é o mesmo apresentado anteriormente, ou seja:

O plano de trabalho apresenta uma boa descrição, com definição por atividades e tarefas, dos intervenientes e coordenador, bem como duração. A metodologia apresenta uma descrição excelente que torna possível uma melhor visualização das atividades e metodologias desenvolvidas.

 

Projeto com um insuficiente plano de trabalhos – Projeto N2

O projeto S2 pretende o desenvolvimento de novos produtos para corrigir patologias em sistemas de isolamento térmico pelo exterior, através de um revestimento de pequena espessura.

Sendo o mesmo exemplo que tinha sido abordado no âmbito da metodologia cientifico-tecnológica o texto de avaliação é o mesmo apresentado anteriormente, ou seja:

O plano de trabalhos é coerente em termos das atividades propostas. Contudo, a sua é descrição é muito limitada. Sendo difícil de avaliar a sua adequabilidade e carácter inovador da solução proposta. Ou seja, apenas foram referidos os objetivos gerais de cada atividade, sem nenhum detalhe, por exemplo sobre o tipo de matérias-primas a selecionar para a sua posterior preparação, em que forma serão apresentados, quais as metodologias de caracterização. O plano de trabalho foi descrito de uma forma muito vaga, não sendo possível daí retirar elações sobre a novidade e adequabilidade das metodologias e do produto. O Diagrama de Gantt não define os recursos afetos, nem responsabilidades.

Assim é tão relevante a apresentação das atividades como dos recursos, bem como a adequada descrição das atividades até para se verificar o carácter inovador da proposta, justificação tanto da sequência das atividades como dos recursos afetos e no caso dos recursos humanos a responsabilidade devidamente justificada.

João&Susana

Referências

2020, P. (s.d.). Referencial de Mérito do Projeto, Sistema de Incentivos à Investigação e Desenvolvimento Tecnológico (SI I&DT).

ANI. (s.d.). Ficha de Avaliação de Projeto.

 

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