Em Famalicão da Serra, há uma força invisível que une as pessoas e as raízes da terra: o espírito de entreajuda, a troca de opiniões e o orgulho partilhado que transforma cada gesto num símbolo de pertença. É uma força tão presente que até as paredes de uma casa contam histórias – como a minha, feita de cortiça, que rapidamente se tornou uma peça viva da identidade da aldeia.
Quando construí a minha casa, sabia que era algo diferente. Uma casa de cortiça é mais do que uma escolha estética ou funcional; é uma homenagem à natureza e às nossas raízes. Mas, como descobri rapidamente, em Famalicão da Serra as decisões pessoais raramente são apenas individuais. Aqui, o coletivo tem uma voz própria, e a minha casa – uma novidade na aldeia – despertou essa voz.
“Uma casa de cortiça sem um sobreiro não faz sentido”, disse alguém. E foi assim que a semente de uma ideia – literalmente – começou a germinar. Não demorou muito para que o vizinho aparece, com um sobreiro, para corrigir esta “falha”. Se a casa honrava a cortiça, então faltava o sobreiro, a árvore que lhe dá vida.
E assim, com a simplicidade que só uma aldeia como Famalicão da Serra pode oferecer, um sobreiro foi plantado. Mas não foi apenas uma plantação; foi um gesto carregado de significado. O sobreiro não era apenas uma árvore – era a afirmação de um orgulho partilhado, uma forma da comunidade dizer: “Estamos juntos nisto. Esta casa não é só tua, é nossa também, já nos representa.”
Enquanto o vizinho estava a cavar a terra e colocar a jovem árvore no seu lugar, senti que o ato era muito mais do que simbólico. Era o espírito da aldeia em ação. Uma aldeia onde ninguém está sozinho, onde as ideias individuais são abraçadas e melhoradas pela força do coletivo, onde o orgulho pela terra e pelas suas tradições é uma chama que nunca se apaga.
Hoje, quando olho para o sobreiro no quintal, vejo mais do que uma árvore. Vejo as mãos que o plantaram, as vozes que discutiram a sua necessidade, o sorriso dos vizinhos que passaram a chamar a casa de “a casa da cortiça e do sobreiro”. Vejo uma comunidade que não se limita a observar; participa, cuida, acrescenta valor.
O sobreiro cresce devagar, como crescem as coisas que têm raízes fortes. E é assim também com o espírito de Famalicão da Serra. Aqui, tudo o que fazemos – uma casa, uma festa, uma fogueira, um novo vizinho – ganha significado através da partilha, da entreajuda e do sentimento de pertença.
Porque em Famalicão da Serra, nada é só de uma pessoa. Tudo tem um pouco de todos nós. E o sobreiro que agora cresce na minha casa é a prova viva de que, nesta terra, cada gesto é um laço que nos une ainda mais.
Bem-haja Famalicão da Serra!