Muito antes das bibliotecas digitais, dos motores de busca ou das universidades modernas, existiu uma civilização que já compreendia o valor do conhecimento como um bem comum. Estamos a falar da Babilónia, uma das mais antigas e fascinantes culturas da história humana. No coração desta civilização, erguia-se uma ideia revolucionária: um templo do conhecimento aberto a todos.
Um espaço sagrado para o saber
O que hoje chamamos de biblioteca já existia há mais de 4 mil anos na Mesopotâmia. Mas ali, o conhecimento não era simplesmente armazenado — era venerado. O chamado E-dubba (em sumério, “casa das tábuas”) era um centro de aprendizagem, onde se copiavam, preservavam e ensinavam textos em tabuletas de argila. E muitos destes espaços estavam associados a templos, o que elevava o acto de aprender a um ritual quase sagrado.
Na Babilónia, o saber era considerado um dom divino. Os textos não pertenciam a uma elite fechada, mas eram produzidos para o povo e pelo povo — administradores, escribas, professores, astrónomos, curandeiros. Era um conhecimento funcional e compartilhado, aplicado à agricultura, astronomia, medicina e organização social.
Conhecimento como bem comum
Ao contrário de muitas instituições contemporâneas onde o acesso ao saber é condicionado por barreiras económicas, sociais ou tecnológicas, o ideal babilónico era claro: o conhecimento devia circular, viver, ser útil. Era, acima de tudo, coletivo.
Mesmo o famoso Código de Hamurábi, um dos documentos legais mais antigos da humanidade, foi erguido em pedra à vista de todos, não escondido em arquivos. A ideia era simples mas poderosa: as regras, o saber, a cultura — pertencem a todos.
O que podemos aprender hoje com a Babilónia?
Vivemos numa época de abundância de informação, mas de crescente desigualdade no acesso ao conhecimento. A lógica de algoritmos, subscrições e paywalls nem sempre nos aproxima da sabedoria — muitas vezes, distancia-nos dela.
O templo do conhecimento da Babilónia relembra-nos que a educação não deve ser um privilégio, mas um direito. Que o saber deve ser partilhado, discutido, vivido em comunidade. Que o conhecimento, quando verdadeiramente livre, é uma ferramenta de emancipação e justiça social.
Inspirarmo-nos na Babilónia não é apenas um exercício histórico — é uma chamada à ação. Num mundo em que se debate a ética da inteligência artificial, os limites do ensino superior e o papel da ciência na sociedade, talvez seja hora de reerguer o templo do conhecimento: não em pedra, mas em valores. Um espaço aberto, inclusivo, vivo. Onde o saber seja, novamente, de todos para todos.