Tive a semana passada oportunidade de participar no CISPEE 2025 – International Conference of the Portuguese Society for Engineering Education, um espaço cada vez mais relevante para refletir sobre o futuro do ensino de engenharia. A minha presença no evento ficou marcada pela apresentação de um artigo, fruto de trabalho desenvolvido ao longo do projeto BUILD2050.
A sessão onde apresentei o artigo seguiu o modelo habitual: uma exposição oral com tempo cronometrado (10 a 15 minutos) seguida de, no máximo, duas perguntas da audiência. Embora este formato continue a ser o padrão em muitas conferências académicas, confesso que saí da sessão com a sensação de que este modelo está cada vez mais desajustado à realidade atual.
Num contexto em que se fala tanto de aprendizagem ativa, partilha aberta de conhecimento e diálogo interdisciplinar, limitar uma apresentação a um monólogo com espaço mínimo para interação parece contraditório com os próprios princípios pedagógicos que promovemos enquanto educadores. O tempo dedicado à apresentação acaba por deixar pouco espaço para discussão profunda, confronto de ideias ou mesmo sugestões que possam enriquecer o trabalho apresentado.
No caso específico do meu artigo, algumas pessoas abordaram-me depois, no corredor ou via mensagem, com perguntas e comentários muito pertinentes — exatamente o tipo de interação que teria sido valioso ter partilhado com todos os presentes. Isto levanta a questão: não faria mais sentido repensar o modelo?
Por exemplo:
- E se as apresentações fossem mais curtas e seguidas de uma mesa redonda temática?
- Ou se os artigos estivessem disponíveis previamente, permitindo dedicar a sessão apenas ao debate?
- Ou, ainda, se houvesse formatos híbridos entre apresentação, painel e workshop?
Claro que há sempre limitações logísticas e de tempo, mas os congressos devem acompanhar as mudanças do próprio ensino e da ciência. O CISPEE, pela sua natureza inovadora, pode (e deve) ser um espaço privilegiado para essa reinvenção.
Apesar desta crítica construtiva, destaco a qualidade global do evento, o ambiente de partilha entre colegas e o entusiasmo visível na busca de novas abordagens para um ensino de engenharia mais inclusivo, eficaz e significativo.
Que venham mais edições do CISPEE — e, com elas, novas formas de comunicar e construir conhecimento.