Falar de ciência é, inevitavelmente, falar de financiamento. Sem recursos, as ideias ficam na gaveta, os projetos não avançam, e o conhecimento não se transforma em impacto real na sociedade. No entanto, a forma como atualmente se distribuem os financiamentos científicos continua a criar barreiras que muitas vezes afastam quem tem boas ideias, mas não domina o “sistema” – ou não teve acesso às mesmas oportunidades de formação e apoio.
Se queremos uma ciência verdadeiramente inovadora e representativa, temos de tornar o acesso ao financiamento mais democrático. Isto significa criar condições para que todos – independentemente da sua afiliação institucional, experiência prévia ou rede de contactos – possam competir em pé de igualdade.
Uma das formas mais eficazes de nivelar o campo é garantir o acesso a formação específica e prática sobre candidaturas a financiamento. Saber escrever uma proposta forte, conhecer os critérios de avaliação, perceber o que valoriza cada programa… tudo isto pode e deve ser ensinado. Muitas vezes, não é a qualidade da ideia que falha, mas sim o desconhecimento de como traduzi-la para a linguagem e estrutura esperada pelos avaliadores.
Além disso, seria importante criar programas de mentoria e apoio contínuo, que acompanhassem investigadores e investigadoras ao longo de todo o processo, desde a conceção da proposta até à submissão. Uma ciência mais acessível é também uma ciência mais justa e rica em diversidade de perspetivas.
Democratizar o financiamento científico não é um favor: é uma necessidade. Porque o talento está espalhado por todo o lado – o que nem sempre está é o apoio necessário para o fazer brilhar.