Recentemente, tive a oportunidade de visitar a Dinamarca e de conversar com um professor da DTU (Technical University of Denmark) sobre algo que, apesar de muitas vezes ignorado, é fundamental no universo da investigação e do desenvolvimento de projectos: aprender com os projectos que não foram aprovados.
Falávamos sobre candidaturas a financiamentos — um processo que consome tempo, energia, ideias, trabalho de equipa, e onde as expectativas, naturalmente, se elevam. Quando uma proposta não é aprovada, é fácil cair na frustração, fechar o dossiê e seguir em frente. Mas será esse realmente o melhor caminho?
Eu acredito — e já o pratico — que não. E foi reconfortante perceber que este tema também é valorizado fora de Portugal.
O valor do “não”
Cada candidatura, mesmo as que não têm sucesso, é uma fonte valiosa de aprendizagem. O “não” não deve ser um ponto final, mas sim uma vírgula que nos obriga a rever, repensar, afinar.
Com o professor da DTU, partilhei a prática que tenho procurado manter sempre que submeto uma proposta: tentar marcar uma reunião com a entidade financiadora, pedir feedback detalhado e tentar compreender o porquê da não aprovação. Nem sempre é possível, nem sempre o retorno é tão rico quanto gostaríamos — mas quando é, faz toda a diferença.
Este gesto simples pode revelar falhas estruturais na proposta, problemas de alinhamento com os objetivos do programa, lacunas na demonstração de impacto, ou até aspetos formais que passaram despercebidos. E, sobretudo, permite melhorar para a próxima.
Criar uma cultura de melhoria contínua
Infelizmente, ainda é comum tratar candidaturas falhadas como “tempo perdido”. Mas se pensarmos bem, o verdadeiro tempo perdido é aquele que não é usado para crescer. O investimento feito numa candidatura deve valer sempre alguma coisa — se não for o financiamento, que seja o conhecimento.
No ambiente académico e profissional, devíamos normalizar este processo de revisão pós-candidatura. Instituições, investigadores e equipas de projeto beneficiariam muito se cultivassem o hábito de analisar os fracassos com a mesma seriedade com que celebram os sucessos.
A ida à Dinamarca reforçou esta convicção: é preciso olhar de frente para os “nãos” e aprender com eles. A candidatura não aprovada não é um ponto de chegada, é um ponto de partida para algo melhor.
Se investimos semanas ou meses a preparar uma proposta, faz sentido que, no mínimo, tiremos dela uma lição clara. Nem sempre ganhamos o financiamento — mas podemos sempre ganhar clareza, estratégia e maturidade.
E isso, no fundo, é também uma forma de avançar. Eu estou a tentar fazer este caminho, e tu?
