O tempo na ciência é um paradoxo. Enquanto esperamos meses – por vezes quase um ano – para conhecer o resultado de uma candidatura de um projeto, a ciência continua a avançar a uma velocidade vertiginosa. As ideias que tínhamos ao submeter a proposta podem já ter sido ultrapassadas por novas descobertas, outras abordagens ou até mesmo por uma transformação do próprio campo de estudo.
Este desfasamento temporal pode ser frustrante. Quando finalmente recebemos uma resposta, já amadurecemos novas perspetivas, encontramos outras referências e, em alguns casos, até questionamos a relevância da investigação que inicialmente propusemos. O mercado do conhecimento nunca está parado, e o ritmo da inovação não espera pelos trâmites administrativos das instituições financiadoras.
Mas será este intervalo de tempo, por mais frustrante que seja, apenas um obstáculo? Ou será também uma oportunidade? Durante esta espera, amadurecemos enquanto investigadores, desenvolvemos novas abordagens e, por vezes, até percebemos que o nosso verdadeiro interesse está num caminho ligeiramente diferente daquele que inicialmente imaginámos…
A ciência não tem o mesmo tempo que a burocracia. Quem investiga sabe que uma ideia hoje pode ser obsoleta amanhã, e que um conceito revolucionário pode surgir onde menos esperamos. Por isso, será que a solução passa por acelerar os processos de seleção das candidaturas? Ou por permitir maior flexibilidade na adaptação dos projetos ao longo do percurso?
O que é certo é que, enquanto esperamos, a ciência não para. E nós, investigadores, temos de encontrar formas de acompanhar este ritmo sem ficarmos presos a um tempo que não nos pertence.
