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Doutoramento e Trabalho: Uma Combinação que Deve Ser Tendência

by Susana Lucas
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Durante muito tempo, o percurso de doutoramento foi idealizado como um percurso quase monástico — um retiro académico, isolado da vida “real”, focado em leituras, investigações e publicações. No entanto, esse modelo já não responde às exigências do mundo atual.

Cada vez mais, encontramos um perfil que merece ser valorizado e promovido: o doutorando que é também trabalhador-estudante. Não por falta de alternativas, mas por convicção. E isso deve deixar de ser visto como uma exceção para se tornar uma tendência consciente e estratégica.

Unir teoria e prática: o melhor dos dois mundos

Um doutorando que trabalha fora do meio académico traz consigo uma vantagem rara: a capacidade de ligar diretamente a sua investigação a problemas concretos. Seja na administração pública, na indústria, na educação, na saúde ou no terceiro setor, ele parte de questões reais, urgentes e com impacto direto na sociedade.

Não se trata de “apenas” estudar. Trata-se de investigar com propósito. O trabalhador-estudante não procura uma tese para si, mas sim soluções para o mundo em que vive e trabalha.

A vida como laboratório

Este tipo de doutorando aprende todos os dias no seu ambiente de trabalho. Testa ideias, ouve desafios, observa dinâmicas sociais e técnicas — e leva tudo isso para a investigação. O seu contexto profissional é um laboratório vivo, onde teoria e prática se confrontam e se ajustam constantemente.

Ao invés de afastar-se da realidade para investigar, este perfil aproxima-se ainda mais dela.

Desafios? Sim. Mas com retorno garantido.

É verdade que conciliar um emprego a tempo inteiro (ou parcial) com a exigência de um doutoramento é um desafio enorme. Requer:

  • Gestão rigorosa do tempo;
  • Apoio institucional;
  • Orientadores flexíveis e conscientes;
  • Políticas de investigação mais inclusivas.

Mas o retorno é inegável: projetos mais aplicados, mais enraizados na realidade e com maior potencial de impacto.

Um novo modelo para a ciência

Se queremos uma ciência mais útil, mais acessível e mais próxima das pessoas, então precisamos de reconhecer que os doutorandos não têm de estar exclusivamente fechados nas universidades.

Devemos apoiar modelos híbridos, que incentivem:

  • A partilha entre academia e mercado de trabalho;
  • A valorização do conhecimento empírico;
  • A inclusão de saberes profissionais no debate científico.

O aluno de doutoramento que é também trabalhador-estudante não está dividido entre dois mundos — ele é a ponte entre eles. E é precisamente essa ponte que a investigação precisa para ser mais relevante, mais transformadora e mais conectada com a sociedade.

É tempo de deixarmos de perguntar “como consegues conciliar?” e começarmos a afirmar:
“Ainda bem que concilias — precisamos de mais como tu.”

O que achas disto?

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