Desde o lançamento do ChatGPT, no final de 2022, que a Inteligência Artificial Generativa (IAGen) tem estado no centro do debate educativo e científico. Estas ferramentas, capazes de gerar texto, imagens, código, música e mais, prometem transformar radicalmente a forma como ensinamos, aprendemos e investigamos. Mas será que estamos preparados para as utilizar de forma ética, segura e pedagógica?
A UNESCO, atenta a este desafio, publicou em 2024 o seu Guia para a IA Generativa na Educação e na Investigação — o primeiro documento internacional com orientações claras e abrangentes sobre o tema.
Porquê este Guia?
A rápida adoção das ferramentas de IAGen por estudantes, professores e investigadores surpreendeu sistemas educativos por todo o mundo. A ausência de regulamentações nacionais e a falta de formação específica geraram riscos significativos:
- Exposição de dados pessoais;
- Uso pouco crítico ou mesmo manipulativo das ferramentas;
- Redução da diversidade cultural e linguística nos conteúdos;
- Desinformação e plágio académico.
O Guia da UNESCO surge para orientar políticas públicas, práticas pedagógicas e decisões institucionais, com base numa abordagem centrada no ser humano.
O que o Guia recomenda?
- Regulação e ética
A UNESCO defende a criação urgente de marcos legais e éticos para o uso da IAGen. Entre as propostas estão:
- Proteger a privacidade dos utilizadores;
- Estabelecer limites etários para o uso;
- Exigir transparência dos fornecedores de IA;
- Evitar a concentração de poder tecnológico em poucas empresas.
- Capacitação de professores e investigadores
Os docentes devem ser formados e apoiados no uso pedagógico da IA, com competências tanto técnicas como éticas. A UNESCO incentiva o desenvolvimento de planos formativos em:
- Engenharia de prompts;
- Avaliação crítica de resultados gerados por IA;
- Integração criativa em sala de aula ou projeto de investigação.
- Inclusão e equidade
O Guia alerta para o risco da IA reforçar desigualdades já existentes — por exemplo, ao excluir línguas menos comuns ou ao perpetuar preconceitos nos dados. Por isso, propõe:
- Modelos linguísticos localizados e multilingues;
- Promoção da diversidade de vozes;
- Apoio a estudantes com necessidades especiais.
- Uso pedagógico e criativo
A UNESCO não pretende proibir a IAGen, mas sim orientar a sua utilização consciente e educativa. Entre os exemplos sugeridos:
- IA como tutor personalizado 1:1;
- Apoio à aprendizagem baseada em projetos;
- Facilitação da escrita e da revisão científica;
- Apoio a investigadores em fases preliminares de análise de dados.
E o futuro?
O Guia fecha com uma mensagem clara: a IA generativa não substitui a inteligência humana. Pelo contrário, deve ser usada para fortalecer a agência dos estudantes, incentivar a criatividade, promover o pensamento crítico e respeitar a diversidade.
Se for bem integrada, a IA pode ajudar a repensar como e porquê aprendemos. Mas isso exige liderança política, investimento em formação e um olhar atento aos impactos a longo prazo.
A UNESCO oferece-nos, com este Guia, uma bússola num território novo e em rápida evolução. Cabe agora a governos, instituições de ensino, professores e investigadores tomarem as rédeas do processo e garantirem que a IA serve a educação — e não o contrário.